1905 -1928

Fulvio Pennacchi nasceu em 1905, em Pianacci, pequena fração de Villa Collemandina, na Garfagnana, província de Lucca; Toscana; Itália de uma família de antiga progênie, católica, monárquica e ativamente aderente ao movimento unificador italiano. Faleceu em são Paulo, após longa enfermidade, em 05 de outubro de 1992.

Pertencia ao ramo da Família Pennacchi conhecido pelo predicado de “Pennacchi dei Capitani”, formado durante a vida de Giovanni Domenico (1774-1849) que se acredita ter sido capitão da armada alpina.

Desde meados do século XIX, seus ancestrais tinham o monopólio de comprar, moer e vender trigo para toda a “alta Valle del Serchio”, o que lhes dava uma posição proeminente na sociedade local. As benesses oriundas daquele comércio chegaram abruptamente ao fim com a morte prematura de seu pai – Derciso Vittorio (1880-1920) – ficando Fulvio e seus irmãos (Bruno, Nello e Gaetano Giuseppe) e irmã (Olga) sob a guarda de seu tio, o advogado Giuseppe Lemmi de Castiglione di Garfagnana.

Após ter cursado os estudos elementares em Castiglione e os secundários em Pisa, inicia os estudos superiores em pintura na “Real Academia de Arte Augusto Passaglia”, de Lucca; aonde, após sua graduação, em julho de 1928, substituiu como professor, o seu mestre e orientador o pintor Antonio Pio Semeghini (1878-1964). Em seguida, por cerca de um ano, estudou desenho em Florença aperfeiçoando sua técnica em nanquim.

A arte italiana havia vivido um período de grande renovação nos primeiros decênios dos anos 1900; Pennacchi, por sua vez, havia assimilado os princípios e ensinamentos do “Retorno a Ordem (1919-1925)”, prevalentemente classicista. Inicialmente antipático a Pennacchi, Semeghini se impôs não somente como o já famoso re-leitor do pós-impressionismo, mas sim como um grande parceiro que ao ensinar, partilhava conhecimento, experiência e diligentemente tonificava o aperfeiçoamento do desenho e da técnica de pintar. Apresentou aos seus alunos a fundamentação teórica do “Retorno a Ordem”, do “Novecento Milanese” e “Novecento Italiano” e os deixou livres para escolherem seus caminhos... .        

Quando retornava à sua terra natal, Pennacchi reproduzia suas paisagens servindo-se de uma linguagem naturalista e antiacadêmica, simplesmente observando a natureza “en plein air” com sua luz e cor, tal como fizeram os pintores da “Escola de Barbizon e Fontainebleau” no final do século XIX. A experiência será repetida, anos mais tarde, com seus colegas-pintores do “Grupo do Santa Helena”, nos arredores de São Paulo. Executava também muitos desenhos a lápis e a nanquim, retratando seus familiares, amigos, conhecidos além das representações da vida cotidiana do seu mundo rural e urbano.

São também desse período suas primeiras pinturas murais “a tempera”, executadas nas residências de Pennacchi Valerio e Giannotti Aladino. Na primeira obra, Pennacchi elaborou dois frisos perimetrais com cerca de 60 cm de altura. O primeiro partia do grande átrio se prolongava até a sala de visitas. Através de figuras diáfanas de cores quase transparentes que dançavam entre guirlandas de hera e pâmpano, Pennacchi corporificou o mais famoso poema de Lourenço – o Magnífico, entitulado “Baco e Ariadne”. Na sala de jantar, um segundo friso de folhas de louro e acanto emoldurava o brasão familiar que havia sido pintado por volta de 1767. Para a sala de armas da casa Giannotti, Pennacchi criou cenas de caça relativas à fauna local além do retrato do então proprietário.

Desiludidos e perseguidos pelo fascismo local, Fulvio Pennacchi e alguns parentes próximos decidem emigrar para o Brasil onde já viviam seus dois irmãos e outros parentes que no final do século XIX haviam comprado terras no Sul de Minas (Monte Sião, Ouro Fino, Jacutinga, Borda da Mata, etc.). Quando de sua chegada, aqueles parentes já eram grandes plantadores de café, empregando como mão de obra aquela “dei disperati imigranti italiani della vanga o del piccone”. Durante a década de 1910, Pennacchi Luigi, também ele Pennacchi dei Cannari de Villa Collemandina, recebera o título honorífico de “Coronel” da Guarda Nacional e era juntamente com Júlio Bueno Brandão (1858-1931), líder regional do Partido Republicano Mineiro.   

Partiu de Genova em 14 de junho de 1929 chegando ao Brasil, em Santos, em 5 de julho do mesmo ano às 08h00, em plena “Crise do Café”, subproduto daquela “quinta-feira negra” nova-iorquina que repercutia em todo o mundo.