anos 50

O início da década de 1950 marca, grosso modo, o contato direto dos artistas brasileiros com recém chegados processos de criação. Alexander Calder e Max Bill expõem no MASP e este último recebeu o prêmio de melhor escultura, unanimemente aplaudida, na nossa primeira Bienal (1951). A arte abstrata que fora iniciada por Wassily Kandinsky na década de 1910, finalmente permeara-se entre nós. Os antagonismos surgiram; aqui estão dois exemplos; Mário Pedrosa defendia o movimento abstracionista enquanto que o arquiteto Vilanova Artigas, considerava a Bienal e o abstracionismo como a “expressão da decadência burguesa”.  

Concomitantemente Samson Flexor (1907-1977) que chegara ao Brasil em 1948, iniciou as atividades do “Atelier Abstração” em São Paulo. Ainda em São Paulo o concretismo recebia o nome de “Grupo Ruptura”; catalisado positivamente pelo porta-voz do grupo, Waldemar Cordeiro (1925-1973). No Rio de Janeiro surgiu um grupo que após a Bienal se transformaria no “Grupo Frente”, liderados pelo artista carioca Ivan Serpa (1923-1973), um dos precursores da abstração geométrica no Brasil.

Ouçamos Pennacchi:

 “... participei da primeira Bienal com uma composição de figuras em afresco sobre reboque, porém optei por um auto-exílio, por não concordar com o caótico desenvolvimento das artes plásticas nos anos 1950 e resolvi voltar para o meu mundo e continuar a pesquisar e trabalhar. Até 1964 fiquei completamente isolado e nunca fui convidado a participar de qualquer mostra de arte.”

 Tenaz e obstinado Pennacchi continuou seu caminho.  Produziu durante o período afrescos e painéis de grandes dimensões; o último deles, em 1959, numa capela na Igreja de Nª. Sª. Auxiliadora. Fez mais; entre eles: “O balão” para Cândido Cerqueira Leite (3,8 x 7,0 m), “A ceia de Emaús” para a Liga das Senhoras Católicas; hoje Liderança Capitalização (2,9 x 6,4 m); “Cena Italiana” hoje de propriedade de Dudi Guper (1,8 x 4,0 m); decorou ainda a abside da Igreja Matriz de Ribeirão Pires. Vide “Cronologia das pinturas murais e painéis.”

Recebeu várias premiações – Vide “Cronologia das premiações”, entre elas, a “Pequena Medalha de Ouro do Salão Oficial de Arte Moderna de São Paulo”.

Um outro produto magno da época foi a escultura. As argilas e as terras brasileiras sempre interessaram a Pennacchi, e delas surgiram, como resultado de extensas pesquisas, suas esculturas, que quando à sua categoria, enquadram-se nas peças em “terracota”, “grés” e outras com “acabamento policromático”.

As tais “cerâmicas”, nome pelas quais aquelas esculturas são comumente conhecidas, foram cozidas em seu próprio forno. Adicionais experiências foram possíveis pelo apoio e amizade de Paulo Rossi Osir e do industrial Cândido Cerqueira Leite (Mauá – SP 1937-1970), que lhe cedia seus fornos – Indústria de Cerâmica Cerqueira Leite S.A. – que atingiam a temperatura de 1.300º.

Sem a utilização do torno, com singular destreza saíram das mãos do artista, imagens, presépios, santos, anjos, adereços (broches, pulseiras e colares), jarros, cinzeiros, composições figurativas e figurarias além de toda a sorte de alfaias.
O maior exemplo da “cerâmica vitrificada” é o azulejo. No final da década de 1940 – lembremo-nos que a casa da “Rua Espanha” foi inaugurada em 1948 – Fulvio e Filomena os compraram, e como eram brancos, pintaram milhares deles os quais foram utilizados no acabamento da cozinha, copa e banheiros da residência da “Rua Espanha”.

Os serviços de mesa, que são de faiança branca, também eram comprados, posteriormente decorados pelo casal e cosidos nos dois fornos que estavam instalados no porão da casa que se comunicava com o “atelier” do artista por uma escada.

Um outro mundo, inesperado e inexplorado de um extraordinário criador!

 
Bibliografia:

1.        “Arte Abstrata”; Mel Gooding; Cosac & Naify; São Paulo; 2002.
2.        “Abstracionismo geométrico e informal”; Fernando Cocchiarale & Anna Bella Geiger;Tema e Debates 5, FUNARTE; Rio de Janeiro; 1987.
3.        “As Bienais: São Paulo; 1951 -1987”; Leonor Amarante; Projeto Editores Associados Ltda.; São Paulo; 1989.
4.        “Arte Concreta Paulista; documentos”; Org. João Bandeira; Cosac & Naify; São Paulo; 2002.
5.        “Grupo Ruptura”; Curadora: Rejane Cintrão; Textos; Cosac & Naify; São Paulo; 2002.
6.        “Antonio Maluf”; Curadora: Regina Teixeira de Barros; Cosac & Naify; São Paulo; 2002.